Dra. Jocelem Salgado*
1. Quais as principais características do chá verde e do chá branco?
O Chá Verde e o Chá Branco são provenientes da Camellia sinensis, uma planta procedente principalmente do sul da China e do norte da Índia. Para produzir o Chá Verde, as folhas extraídas da planta são secas no ar, depois são fumegadas (vapor), enroladas e voltam a serem secas por um a dois dias. Diferentemente do chá verde, para a obtenção do chá branco só os brotos mais jovens, ainda cobertos de uma penugem branca são colhidos. Todo esse processo é manual e ocorre poucos dias no ano, entre os meses de abril e maio, uma das razões para a raridade e alto custo do produto.
Durante a maturação, os brotos são protegidos contra a ação do tempo e do sol e a colheita é realizada antes que ocorra a síntese de clorofila nas folhas, quando ficam verdes e começam a abrir. Nessa fase, a folha tem uma coloração prateada, devido à fina penugem branca que recobre os brotos, daí a origem do nome chá branco. Depois de colhidos, os brotos secam naturalmente, sendo assim menos processados que as folhas do chá verde. Para nós o chá branco é uma grande novidade, mas na China é conhecido desde os primórdios da dinastia Song (de 960 a 1279 d.C.). Lá, ele é muito apreciado no verão por ser refrescante e suave, apresentando sabor mais adocicado e delicado que o chá preto e o verde, mais amargos.
2. O chá branco apresenta maiores benefícios à saúde do que o chá verde?
Por ser proveniente de brotos muito jovens, acredita-se que o chá branco apresente uma maior concentração de substâncias bioativas que o chá verde, cujas folhas são mais processadas. Nessa fase de maturação, os brotos apresentam uma alta concentração de polifenóis (substâncias com ação antioxidante), o que pode sugerir uma ação mais eficiente na redução do risco de doenças quando comparado ao chá verde.
Contudo, precisamos de pesquisas de longo prazo, com metodologia ampla e biomarcadores confiáveis que comprovem a superioridade do chá branco em relação ao verde. Até o momento, os estudos não mostram muitas diferenças e parece que os benefícios são semelhantes. O que já está comprovado é que ambos são ricos em polifenóis catequinas, particularmente a epigalocatequina galato (EGCG), substância com poderosa ação antioxidante.
3. Quais os benefícios do consumo desses chás para a saúde?
A quantidade de estudos publicados na literatura mundial nos últimos 10 anos é grande, com alguns resultados contraditórios. Pesquisas recentes mostram uma forte associação entre o consumo desses chás com uma ação antioxidante, anti-inflamatória e anti-carcinogênica no trato digestivo. Alguns estudos evidenciam também os benefícios para o coração e o sistema cardiovascular.
Estudos realizados pela Universidade de Nova Jersey apontam que o consumo desses chás diminui a incidência do aparecimento de diversos tipos de câncer, como o de mama, pâncreas, cólon, esôfago e pulmão, em seres humanos. Outras pesquisas revelam que eles também estimulam o sistema imunológico, aumentando nossa proteção natural contra as infecções, inclusive contra gripe.
4. Eles ajudam a emagrecer? Qual é o mais indicado?
Testes clínicos mostram que aparentemente, ambos são capazes de aumentar as taxas metabólicas e acelerar a oxidação das gorduras. Dulloo e colaboradores da Universidade de Genebra demonstraram que além da cafeína, a presença dos polifenóis presentes nesses chás aumenta a termogênese (taxa pela qual as calorias são queimadas) e o gasto total de energia. Esse gasto não é alto, em torno de 5% do gasto total de energia diário, mas os pesquisadores acreditam que combinados com uma dieta equilibrada, esses chás podem funcionar como coadjuvantes da perda de peso.
O efeito que alavanca o metabolismo parece ser independente da cafeína suplementar consumida pelos indivíduos estudados, existindo uma interação sinergética entre cafeína e outros componentes bioativos do extrato de chá verde e/ou branco, que acarreta uma promoção de maiores taxas de queima de gordura.
5. Como o chá verde e o chá branco devem ser consumidos?
Podem ser consumidos de diversas formas. A mais comum é a infusão das folhas secas em água quente. Contudo, a indústria atualmente pesquisa e desenvolve formas mais práticas e saborosas que oferecem o extrato em altas concentrações. Eu, por exemplo, assessorei o desenvolvimento de dois chás (verde e branco) em pó com alta concentração de polifenóis, e que podem ser consumidos gelados ou quentes. Eles são enriquecidos com vitaminas e minerais com ação antioxidante e apresentam sabor suave de frutas. Basta adicionar uma colher de sopa do pó em água e mexer.
6. Quanto posso consumir de chá verde e branco por dia? Que horário é melhor?
O consumo dos chás é milenar e não há estudos que mostrem efeitos colaterais em consumi-los em grandes quantidades. A presença de cafeína (em menor quantidade que o café) pode limitar o consumo por pessoas sensíveis a essa substância. Quem tem problemas para dormir, não deve consumi-los depois da 18h00-19h00.
Como existem várias formas de se consumir os chás, meu conselho é o seguinte: para quem escolheu as infusões, o consumo diário para se obter os benefícios à saúde é de cerca de 4-6 xícaras. Para quem escolheu as versões instantâneas que levam extratos concentrados, uma ou duas porções ao dia é suficiente.
7. Existe alguma contra-indicação para o uso do Chá Verde/Branco?
Pelo fato da Camellia sinensis possuir cafeína, pessoas sensíveis a essa substância devem evitar o consumo antes de dormir. Em caso de gastrite, esofagite de refluxo e úlcera gástrica, o consumo também é limitado.
8. Quem tem hipertensão ou diabetes pode fazer usos dos chás?
Sim. Estudos têm mostrado que o consumo desses chás colabora na diminuição da pressão sanguínea. Além disso, as pesquisas mostram que há evidências indiretas entre o fato desses chás aumentarem a capacidade de queimar gorduras com a redução do risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e obesidade. No caso do diabetes, se for adoçar o chá, utilizar adoçantes como a stévia e a sucralose. As versões de preparo instantâneo já vem adoçadas.
9. É verdade que esses chás podem ser ajudar a queimar mais gorduras quando combinados com atividade física?
Sim. Um estudo publicado em março de 2008 na revista American Journal of Clinical Nutrition mostrou que o consumo de chá verde antes da atividade física pode ajudar na queima de gordura. Acredita-se que os efeitos do chá verde sobre a oxidação de gorduras ocorram através da inibição da catecolamina-O-metil-transferase, uma enzima que degrada o hormônio noradrenalina. Altas concentrações desse hormônio podem estimular uma contínua mobilização de gorduras armazenadas no corpo. Essas gorduras podem então ser transportadas ao músculo e usadas como energia durante o exercício. Esse efeito é potencialmente positivo para atletas que desejam aumentar a queima de gordura ou pessoas obesas e/ou diabéticas que precisam eliminar gordura e perder peso.
10. Esses chás podem oferecer proteção contra os danos oxidativos induzidos por exercícios?
Sim. Um estudo de 2007 realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina revelou que o consumo regular de chá verde melhora os mecanismos de defesa antioxidante em praticantes de exercício resistido. A pesquisa verificou que o chá verde pode reduzir a manifestação de danos teciduais induzidos pelo esforço, possivelmente por meio da neutralização da ação danosa de radicais livres. Os pesquisadores sugerem que alimentos e bebidas ricos em polifenóis como o chá verde, podem oferecer proteção contra o dano oxidativo induzido por exercícios, e que a orientação alimentar para esportistas deva ser enfatizada. A Referência Bibliográfica deste estudo é: Panza V.S.P. Efeito do consumo de chá verde no estresse oxidativo em praticantes de exercício resistido. Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis, 2007. Tese de Mestrado.
11. O uso da cápsula no lugar do chá é indicado?
Nas cápsulas, costuma-se encontrar altas dosagens dos princípios ativos, e isso pode trazer desconfortos ao nosso organismo. Caso escolha essa opção, observe sempre a idoneidade de quem as formulou.
Os estudos científicos atuais consideram a Camellia sinensis uma planta estratégica para a saúde humana no século XXI, e o potencial dos chás verde e branco é tão vasto, que devemos estar alertas para que sua produção e elaboração não se desviem para preparados farmacêuticos sintéticos, que nada tenham a ver com o verdadeiro chá.
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Profa. Titular de Nutrição da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) e Presidente da Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais- SBAF