A menopausa é considerada um dos eventos mais perturbadores da vida da mulher, pois marca a linha divisória da fertilidade, além de ser cercado de muitas dúvidas e inseguranças. São anos muitas vezes difíceis de medo, culpa, auto-piedade, baixa auto estima e, principalmente, falta de informação ou informação inadequada que geram mais dúvidas e confusões.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que em 2030, cerca de 1,2 bilhão de mulheres terão mais de 50 anos, ou seja três vezes mais do que em 1990. Dessa forma, o acesso à informações referentes à menopausa é de extrema importância, já que por conta do aumento da expectativa de vida, admite-se atualmente que a maioria das mulheres deverão viver um terço de suas vidas em estado de deficiência estrogênica, ou seja, na fase de menopausa.
O objetivo deste artigo é propor uma reflexão sobre o que podemos fazer para cuidar do corpo e da saúde durante a menopausa, e mostrar para todas as mulheres que essa fase não é sinal de velhice nem de doença, mas um evento que deve ser visto dentro do ciclo natural do organismo. A aceitação natural dessa fase da vida permitirá que a mulher se dê o direito de observar melhor seu corpo e possa dedicar a ela própria cuidados que até então só dedicava aos outros. É portanto, uma fase rica de reconhecimento e convívio com o território do corpo e da alma.
Definindo climatério e menopausa
A palavra climatério vem do grego klimacton e significa “crise”. Do ponto de vista clínico, o climatério pode ser definido como o conjunto de alterações orgânicas e psicológicas provocadas pela diminuição gradual da produção dos hormônios femininos (estrogênio e progesterona) pelos ovários, o que causa o fim dos ciclos menstruais. É, portanto, um período de transição entre a fase reprodutiva e a não-reprodutiva.
O climatério está dividido em três fases: perimenopausa, menopausa e pós-menopausa. A perimenopausa é caracterizada pelo surgimento progressivo de alguns sintomas como ondas de calor, suores abundantes, depressão, irregularidade menstrual e também alterações urogenitais. Essa fase surge por volta dos 45 anos, antes da parada definitiva da menstruação que geralmente já se apresenta irregular. A menopausa, ou seja, a ausência de menstruação por um período de 12 meses consecutivos, em função da perda da atividade ovariana, somente vai ocorrer por volta dos 50 anos. Depois da parada menstrual definitiva, ocorre o que chamamos de pós-menopausa, que seguirá pelo resto da vida da mulher. Por volta dos 60 anos, o organismo se adapta às novas necessidades impostas para a manutenção da saúde, e em geral, os sintomas indesejáveis são pouco observados.
As implicações com o fim da produção dos hormônios são muitas, pois eles exercem funções em quase todo o organismo da mulher. Existem receptores de estrogênios, por exemplo, no sistema nervoso central e nos tecidos ósseos. Os hormônios também são importantes para controlar a saúde global da mulher, já que participa, entre outras funções, da síntese de proteínas, da distribuição de gordura pelo corpo, do controle do colesterol e da preservação do cálcio nos ossos.
Em sua fase inicial, 75% das mulheres sofrem algum tipo de experiência relacionada à falta de estrogênio, como ondas de calor, incontinência urinária, ressecamento da pele e secura vaginal. Também são relatados frequentemente casos de irritabilidade, perda de concentração e da libido e depressão. Em cerca de 30% delas os sintomas são severos. A longo prazo, o déficit hormonal está relacionado ao aumento de doenças cardiovasculares, osteoporose e doenças cognitivas e demenciais, como o Mal de Alzheimer.
Recomendações para viver bem a menopausa
Para superar os sintomas indesejáveis e o risco acentuado de certas doenças na menopausa, é fundamental que todas as mulheres tenham consciência da importância da adoção de um estilo de vida equilibrado que envolve uma alimentação balanceada, exercícios físicos regulares, manutenção de um peso adequado e restrição do álcool e do fumo. Todas essas medidas auxiliam no bem estar geral e dão tranquilidade, disposição e saúde para encarar mais 40, 50 anos de vida pela frente.
Alimentação e peso adequado
A partir dos 40 anos, o metabolismo fica mais lento e as necessidades calóricas diminuem em média 2% ao ano. Em geral, mulheres entre 23 e 50 anos precisam de 1.600 a 2.400 calorias diárias (média de 2.000 calorias), dependendo da altura e do grau de atividade física. Contudo, entre 51 e 76 anos as necessidades diminuem para 1.400 a 2.000 calorias (média de 1.600 calorias). Por isso, é importante controlar o que se come, pois um excesso diário de 200 calorias pode significar um aumento de 10kg no peso ao final de um ano.
É importante manter um peso adequado nessa fase da vida, pois o excesso de peso pode intensificar as ondas de calor, além de contribuir para o aumento de doenças crônicas, como as cardiovasculares, o diabetes, artrite, hipertensão, entre outras. Para as mulheres que precisam perder peso, a minha recomendação é que optem por uma dieta balanceada de cerca de 1200 -1400 calorias diárias, capaz de proporcionar uma perda de peso de cerca de 500 – 700 gramas por semana.
Uma alimentação hipocalórica equilibrada, consiste na redução da ingestão de calorias com refeições leves, pobres em gordura e açúcar. Para garantir a saciedade e o bom funcionamento do metabolismo, é importante que a mulher fracione a alimentação (4-6 refeições ao dia), de forma que faça pequenas refeições ao longo do dia. A dieta deve priorizar frutas e vegetais variados, cereais integrais (aveia, trigo, arroz, centeio, etc), laticínios desnatados, carnes magras, peixes e aves sem pele e leguminosas como soja, feijões, ervilha, lentilha e grão de bico. O consumo de uma pequena porção de castanha do pará, nozes ou amêndoas (2-3 sementes é o suficiente), garante o aporte de vitamina E diário. Frituras, gorduras de carnes, molhos, manteiga, margarina, gordura hidrogenada, doces e refrigerantes devem ser evitados ou consumidos com moderação, assim como bebidas alcoólicas, cafeinadas e alimentos condimentados. Consumidos em excesso, todos eles podem aumentar ainda mais os sintomas indesejáveis, principalmente os calores, além de elevarem o risco de doenças crônicas.
Para obter mais informações sobre alimentação saudável e perda de peso, o site www.emagrecer.com.br apresenta dicas e artigos desenvolvidos pela minha equipe com o objetivo de unir e difundir os conhecimentos da ciência e os desejos das pessoas que buscam um emagrecimento saudável e definitivo.
Água e hidratação
A água é com certeza um dos maiores aliados da beleza do corpo da mulher madura, já que não existe melhor hidratante para a pele do que ela. Existem muitas mulheres que simplesmente esquecem de bebe-la durante o dia. O resultado é visível principalmente na menopausa: pele seca, cabelos fracos, problemas intestinais (constipação) e outros mais graves como cálculos renais, hipertensão, etc. Um corpo bem hidratado, em geral apresenta uma pele macia e elástica, e não podemos nos esquecer que a necessidade do líquido aumenta conforme vamos envelhecendo.
Conforme vamos ficando mais velhos, o nosso corpo começa a ressecar cada vez mais. O corpo de um bebê recém nascido consiste em 75 a 80% de água, contra apenas 50% no caso de um corpo adulto com 60 a 70 anos. Este processo de ressecamento se reflete em pele enrugada, fluxo reduzido de sangue e juntas mais endurecidas. Nesse caso, torna-se imprescindível um consumo adequado de água todos os dias.
Podemos verificar que a ingestão de água está insuficiente simplesmente observando nossa urina. Quando isso ocorre, os rins tentam compensar conservando a água e, portanto excretam uma urina mais concentrada, com coloração amarelo mais acentuado. Portanto, a dica é: consuma pelo menos 8-10 copos de água todos os dias, de preferência nunca junto às principais refeições.
Exercícios físicos e corpo em forma
As alterações hormonais após a menopausa levam a mudanças no formato do corpo. Nessa fase, é comum ganhar volume no abdomen e perder nos quadris e coxas, havendo um aumento na proporção de gordura corporal em relação a massa muscular ou magra.
Mulheres que levam vida sedentária e comem mais do que gastam de energia podem sentir mudanças no formato e proporção de gordura no corpo no início da década dos 40 anos, ou seja, bem antes do início da menopausa. A prática regular de exercícios físicos melhora a condição física das mulheres nessa fase, além de propiciar bem estar. Sabe-se que os exercícios físicos aumentam a disposição pois provocam descargas de substâncias como endorfinas que funcionam como analgésicos naturais e diminuem dores nas pernas, nos músculos, favorecendo um bem estar ao organismo. Uma caminhada pela manhã, entre outras atividades físicas, pode também reduzir ou até eliminar sintomas de depressão, muito comum na menopausa. Além disso, atividades vigorosas como corrida, bicicleta, ginástica e musculação levam o músculo a exercer sobrecarga sobre o osso, o que estimula o processo de reconstituição óssea permanente de nosso esqueleto.
Para as mulheres que querem perder peso, aqui vai um conselho: além de comer menos, gastem calorias por meio de atividade física. Não acreditem que limitando exageradamente a quantidade de calorias consumidas no dia-a-dia, conseguirá emagrecimento saudável e permanente. Isso é ilusão!
Fazer ou não reposição hormonal?
Recentemente, as mulheres que tratam os sintomas da menopausa com doses extras de hormônio levaram um susto. A divulgação do mais importante estudo sobre terapia de reposição hormonal (TRH) já feito no mundo, promovido pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, questionou esse tipo de tratamento. O estudo envolveu 16 mil mulheres e é amplamente considerado o mais confiável e cientificamente rigoroso dos muitos estudos sobre terapia hormonal. Os dados apresentados pelos pesquisadores mostraram um aumento estatisticamente significante nas probabilidades de aparecimento de tumores de mama, o que fez com que a pesquisa fosse interrompida três anos antes da data prevista. Além disso, eles também notaram um incremento considerável nos riscos de doenças cardiovasculares, derrame, além de Mal de Azheimer ou outras doenças associadas à demência em mulheres com mais de 65 anos.
Agora, nesta semana, mais um estudo colocou na berlinda a TRH. Divulgada no dia 06 de outubro na revista da Associação Médica Americana, uma das publicações mais prestigiadas da comunidade científica, a pesquisa mostrou que mulheres com tratamento à base de estrógeno e progesterona em doses consideradas usuais, apresentam um risco dobrado de ter trombose (coágulos venosos, que podem se deslocar até o coração ou pulmões e causar morte imediata).
O estudo da Universidade de Vermon em Colchester (EUA), mostrou que o risco de coagulação do sangue é maior para as mulheres que estão acima do peso ideal, e que uma disposição genética para coágulos, assim como idade avançada, também aumenta as chances do problema.
Por conta desses estudos, o FDA (agência que regula produtos farmacêuticos e alimentícios nos Estados Unidos) está recomendando que as mulheres que buscam alívio dos sintomas da menopausa usem essas drogas nas menores doses efetivas e pelo menor tempo possível. Além disso, o médico deve individualizar o tratamento e verificar se a paciente possui antecedentes ou riscos elevados de doenças como tromboembolia, câncer de mama, câncer de endométrio e doença hepática, além de apresentar sangramento vaginal não diagnosticado ou porfiria (distúrbio causado por deficiências de enzimas).
Alternativas naturais
Se as notícias sobre as pesquisas com a TRH sintética são preocupantes, o momento é de olhar com mais atenção para as alternativas naturais. Estudos com alimentos à base de soja mostram que certos componentes do grão, tais como suas proteínas e isoflavonas, são capazes de aliviar os famosos fogachos que perturbam as mulheres na menopausa, além de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e osteoporose.
O Departamento de Ginecologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, ligado à Universidade de São Paulo (USP), analisou, durante quatro meses, 98 mulheres saudáveis, mas com queixas de desconfortos, como ondas de calor, irritabilidade, insônia, etc. Delas, 50 receberam um alimento à base de soja, rico em proteínas, isoflavonas e cálcio. As demais recorreram à terapia de reposição hormonal clássica (estrogênio e progesterona). Os resultados foram comemorados. Nos dois grupos, os sintomas foram reduzidos. De acordo com a coordenadora da pesquisa, a médica ginecologista ginecologista Ângela Maggio da Fonseca os resultados com o uso do alimento foram tão bons quanto a TRH empregada, com a vantagem de não ocasionar os efeitos indesejáveis da terapia de reposição hormonal. Mais informações sobre essa pesquisa e o alimento podem ser encontradas no site www.estudosojamenopausa.com.br.